A pequena guerreira por Giuseppe Catozzella

setembro 04, 2016


A obra A pequena guerreira é de um encanto sem tamanho. Giuseppe, que escreveu, além de um romance e para diversos jornais, conseguiu capturar a essência da história de Samia Yusuf Omar. Em um primeiro momento achei que seria uma biografia, e o que me chateou um pouco sobre a editoração foi colocar toda história do livro (ou seja, um baita spoiler) nas orelhas. Então acabei lendo, como sempre faço, a sinopse e depois, a que deveria ser uma sinopse “estendida”, mas na verdade era toda a história da vida de Samia (ou seja, o livro todo). Mesmo sabendo que a obra é uma ficção de uma história real, em que o autor, reuniu de forma incrível, relatos de todos que são próximos de Samia, e é algo já “público”, de uma forma em que você pode pesquisar na internet e descobrir tudo, eu não me conformei, pois ainda não conhecia a história e isso estragou grande parte da magia do livro. Então, não leiam as orelhas! É sério.

Apesar desse problema, a narrativa é realmente uma preciosidade. Giuseppe conta a história de uma menina chamada Samia, nascida na Somália, mais especificamente em Mogadíscio. Onde a guerra e a pobreza são constantes destruidoras de sonhos. Mas ela, se agarra fortemente ao esporte, a corrida. E desde pequena treina, com seu amigo Alí, nas ruas destruídas pela guerra, inspirada pela trajetória de Mo Farah, grande atleta e campeão olímpico filho de mãe Somali, e pelo seu pai e sua família, que sempre a apoiou. A questão é que conforme o tempo vai passando, e o poder do grupo Al-Shabaab (ligado com a Al-Qaeda) aumenta, a vida fica muito mais difícil, principalmente para as mulheres, que não podem sair sem a burca completa nas ruas. Contra todas essas dificuldades, Samia continua lutando, e vence o Campeonato Africano de Atletismo aos 17 anos, e chega até os Jogos Olímpicos de Pequim em 2008, mesmo assim, ainda tem uma luta ainda mais difícil pela frente.

– Tudo bem, Samia, acredito em você – disse ele, acariciando meus cabelos. – Se está tão convencida disso, então chegará lá, com certeza.
Depois, ajeitou-se na cadeira, como se quisesse me ver melhor, me observar pela primeira vez com outros olhos.
– Você é uma pequena guerreira que corre pela liberdade – disse. – Sim, você é mesmo uma pequena guerreira.
Enquanto falava, começou a arrumar a faixa elástica na minha testa. Nossos dedos se tocaram.
– Se acredita mesmo nisso, então um dia vai liderar a libertação das mulheres somalis da escravidão à qual os homens as submeteram. Você será a guia delas, minha pequena guerreira.

A grande história de vida de Samia, relatada por Giuseppe, nos traz não só uma visão das dificuldades de pessoas como Samia, mas uma realidade completamente diferente da nossa, que encanta e ao mesmo tempo assusta e nos entristece. Pois, enquanto estamos vivendo nossas vidas com incrível tranquilidade, existem milhares de pessoas que sofrem todos os dias para sobreviver. E acredito que precisamos dessas histórias para sermos relembrados que precisamos nos ajudar, e do que é realmente feito um ser humano. A história trata de pobreza, guerra, esporte, esperança, tragédias, tristeza, a visão real que o ocidente transmite, principalmente países desenvolvidos, a trajetória de um refugiado para alcançar esse modelo de vida “desenvolvido” de uma forma que eu nunca li antes. Sentimos todas as dificuldades pelo modo quase autobiográfico que o autor nos conta. Com detalhes (que não podemos saber se são reais ou não) mas que são de arrepiar e chorar.


Indico a obra para aqueles, que como eu, gostam de temas muito diferentes da nossa realidade, da história dos refugiados, que se torna cada vez mais visível no Brasil, de um ponto de vista diferente, e dos grandes conflitos internacionais, que de uma forma ou outra nos atingem nesse mundo globalizado. Não é uma leitura fácil, apesar das páginas serem poucas, mas é uma leitura enriquecedora. E que nos deixa mais próximos do verdadeiro sentido da vida, e principalmente da liberdade.

Nós nos entreolhamos. Pela primeira vez na vida entraríamos num carro!
Saímos do pátio e o homem nos levou até o automóvel. Era um sedã vermelho da Honda. Ele abriu a porta de trás para nós e nos sentamos. Dentro estava muito frio por causa do ar-condicionado. A impressão era de se estar no meio do gelo. Os bancos de couro preto chiavam um pouco a cada movimento nosso. A cidade, vista pelas janelas do veículo, parecia diferente, menor e mais pobre. As pessoas nas ruas, que eu tinha visto um milhão de vezes, davam a impressão de estar ainda mais ociosas.
Obrigada Editora Record pelo envio do exemplar!
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