Doadores de Sono por Karen Russel

novembro 07, 2016


A obra Doadores de Sono de Karen Russel, primeiro livro que li desta autora, é de certa forma um interlúdio literário. Algo que marca o meio de alguma coisa. E de certa forma inspirador e desapontador. Acredito que tenham sido as minhas próprias convicções, ou gostos para a leitura que me trouxeram esperanças e uma ideia pré-existente sobre a narrativa que me deixou esse sentimento de desapontamento ao final da obra. Talvez tenha sido pelo meu gosto em ficção científica e fantasia, ou por ser mais um livro, de certa forma, “resenhado” pelo Stephen King, que é um grande autor da literatura de terror, e de thrillers psicológicos, e acaba fazendo uma promessa velada. Mas, apesar disso a obra é muito aclamada pela crítica e é escrita por uma autora premiada. 

O tempo logo será ele próprio anacrônico e, da forma que a nossa espécie o viveu neste planeta, deixará de existir. Terá fim a dualidade entre a luz e trevas. Terá fim o dia vermelho ativo, a noite azul que se dissolve. A luz do sol já não é mais o catalisador da consciência, o que nos permite formar nossas personalidades, organizar nossas identidades sobre o travesseiro a cada manhã. Esses cientistas da televisão preveem ‘uma desertificação global de sonhos’

Bom, a história se passa pela narração da Trish, que vive em um mundo contaminado por uma doença do sono, em que as pessoas não possuem mais a capacidade de dormir, e acabam dormindo muito pouco por anos, até que um dia não conseguem mais dormir, e morrem pela falta de descanso. Uma dessas pessoas, é a irmã de Trish, Dori que morreu de insônia. A vida de Trish se resume em trabalhar para que a estação Corpo do Sono da sua cidade, recrutar e recolher a maior quantidade de pessoas saudáveis que doem seu sono para reparar o sono daqueles que não conseguem mais dormir. Os insones, acabam por viver reclusos da sociedade ou em hospitais, criando um mundo totalmente diferente do dos saudáveis. Além disso, há a descoberta da Bebê A e do Doador Q, que são completos opostos, uma sendo doadora universal e o outro um doador viciado que transmite um vírus silencioso pela doação do seu sono.

O livro em si, é muito rápido de ler, as letras também são bem grandes. A capa então, nem se fala! É linda. Mas, o que me desapontou na edição, foi a revisão do português, acham que ficaram alguns erros ainda, para serem revisados que atrapalharam a minha leitura, o que não aconteceu com outros livros maiores que li da editora.


Eu levei um tempo para entender o que se passava na história, pois como disse, é um interlúdio, e mesmo lendo a sinopse é preciso uma leitura de pelo menos umas 25 páginas para se situar, e entender a situação. O que me chamou atenção, logo de cara, foi a forma com que Trish revela suas emoções e seus sentimentos durante a narrativa, é algo que nunca tinha lido dessa forma, tão vívida com que a escritora cria os acontecimentos. A história em si, trata de culpa, moral, preconceito, um pouco do terror de poder ser o próximo insone, ganância humana, que já sabemos, mas é bom lembrar, pode vir em todas as formas e principalmente de sonhos, e o quão longe a sociedade moderna está deles. Não sonhamos, e dessa forma, também não vivemos. Apesar de todos esses aspectos muito bons, e que são muito interessantes também, não consegui entender a questão por traz da narrativa, além claro da reflexão sobre as situações apresentadas. Senti, que o final do livro deixou a desejar, no sentido de um fechamento mais impactante. Mas, aí está a realidade. Ela nunca tem o final que nós gostamos, e nunca é criativa rsrs. 

Indico este livro, para aqueles que gostam de uma história bem concluída, que permite uma reflexão sobre a moral humana, em situações que envolvem doenças e o preconceito com pessoas que precisam de tratamento. Além disso, é bom perceber também a validade das sensações e da ideia que se cria do mundo a nossa volta, da realidade em que vivemos, afinal, ela faz parte dos nossos sonhos, ou está mais para um pesadelo do qual vai demorar para acordar?

Quanto mais tempo passo naquela cadeira dura, mais quero que me mandem embora. Recordo, com afeto, ausências justificadas e atestados médicos, permissões para horas de solidão. Catapora: treze horas e as cortinas de gaze verde estão fechadas, o alívio de não ver ninguém, de não fazer nada, de coçar as minhas feridas em segredo, de rasgar a minha pele de monstro, a sós. Me dispensem, me dispensem. Por motivo de segurança pública, pelo bem geral, digam que posso ir para a casa agora e dormir só para mim mesma.
Obrigada Editora Record pelo envio do exemplar! 


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